25 de abr. de 2012

EQUIPAMENTO: OPÇÕES ECONÔMICAS

Hoje vamos falar de equipamento. Como nós três levamos a vida franciscana de assalariados e estudantes de universidade pública, gostaríamos de disponibilizar algumas opções mais em conta para a montagem de equipamento que encontramos em nossas buscas. Quando começamos a pesquisar ficamos surpresos com os valores cobrados pelas lojas especializadas, panelas de alumino de 20L com torneira de latão sendo vendidas por R$300,00, bombonas de plástico por R$50,00, um simples conjunto de válvula e conectores por R$120,00, além de kits prontos por R$2500,00. Sinceramente não dá. Então começamos a buscar alternativas.

No site Henrik Boden, pode-se encontrar uma série de três posts muito interessantes, fazendo um comparativo entre os fornecedores especializados, além de citar algumas outras opções de compras, inclusive fora do país. Mas o que pretendemos é mostrar algumas alternativas que adotamos para economizar BASTANTE, principalmente na cidade de São Paulo.

A princípio gostariamos de agradecer o número de visitas ao blog. Em 15 dias de existência recebemos mais de 225 visitas, e juro que nós três juntos não temos tantos amigos assim. Sem contar os que caíram no blog sem querer, agradecemos a quem teve a curiosidade de nos frequentar e esperamos que os que apareceram desavisados tenham gostado. Outra coisa é que já estamos atrasados para falar de nossa primeira produção, mas é que tivemos alguns probleminhas e em breve falaremos a respeito dela.

Para o nosso primeiro equipamento, decidimos fazer algo bem básico, alias, decidimos fazer cerveja com extrato como um “treinamento”. Logo, consideramos como elementos indispensáveis: 1 panela de 20L (sem bazooka e sem torneira); 2 fermentadores com torneira (galões de água); 1 termômetro; 1 termostato; 3m de mangueira atóxica; 1 arrolhador; 30 garrafas e uma porção de tampinhas. Após um primeiro levantamento, percebemos que a panela, um dos galões de água, a mangueira e as garrafas nós já tínhamos, restava-nos comprar o termômetro, o termostato, torneiras, o arrolhador e as tampinhas. Mas como nossas pesquisas vislumbravam o futuro próximo, vamos listar aqui outros equipamentos que não compramos ainda, mas que pretendemos comprar em breve.

1 – Sem as panelas nem se começa a fazer cerveja. Encontramos a Casa da Churrasqueira, e o Sr. Entrega, ambas lojas virtuais que vendem panelas por ótimos preços. Todas as válvulas necessárias podem ser encontradas na Acepil.

2 – O termômetro é vital para o controle da temperatura da água durante a mosturação, encontramos no Planeta Frio, o clássico termômetro cervejeiro por R$33,79. Pode ser retirado na loja, poupando o frete e tem 5% de desconto para pagto a vista. Nesta loja também podem ser compradas torneirinhas para os galões fermentadores, por R$5,25 cada. Não são as torneiras ideiais, mas não pretendemos continuar com muito tempo com estes fermentadores.

3 – O termostato costuma ficar na media de R$120,00 na maior parte das lojas de refrigeração e ar condicionado, mas encontramos na Choc Master, de Curitiba, por R$67,00 + frete, compramos o termostato Full Gauge TIC-17RGTi por R$80,00 no total.

4 – O resfriador (um tudo de cobre, alumínio ou até aço inox enrolado) que normalmente é vendido por mais ou menos R$200,00 pode ser feito por MUITO menos, dependendo do material escolhido. Na Refrigeração Marechal, encontramos tubos de cobre e de alumínio. Pesquisamos a respeito da condutibilidade térmica dos materiais e percebemos que não vale a pena um resfriador de aço inox, devido a baixíssima condutibilidade térmica. Na referida loja, encontramos o tubo de cobre por R$35,00 o kg, para um resfriador costuma-se gastar 10m de tubo, ou 2kgs, o que sairá por R$70,00. Uma opção mais em conta é o alumínio, que, embora tenha condutividade térmica menor que o cobre, e sim, a diferença entre ambos é considerável, possui a melhor relação custo x benefício para quem tiver pouca grana pra comprar os equipamentos adequados, contudo, um resfriador com 15m ou mais, poderia compensar a eficiência do cobre. Nesta mesma loja, o metro do tubo de alumínio sai por R$1,17 e um resfriador com 15m de tubo sai por R$25,00.

5 - Rolhas de borracha para os galões fermentadores, além de diversos itens que podem ser muito úteis podem ser encontrados na Casa Americana.

6 - Garrafas podem ser encontradas no Mercado livre por R$25,00 um engradado com 24 vasilhames usados, mas podem ser comprados diretamente em bares e sua região.

7 - As tampinhas não apresentam tanta diferença de preço entre as lojas cervejeiras e outros lugares. Foram encontradas na IR Juntas, localizada na Vila Prudente, o preço anunciado no Mercado Livre é R$5,99 o cento, é possível telefonar e pegar no local. Também encontramos tampinhas na Aqua Mineira, em BH por R$6,00 o cento, o interessante é que eles tem uma tampinha que é xadrez.

 8 – O arrolhador é bem difícil encontrar em lojas “comuns”, o nosso foi comprado no Cia da Breja, devido à possibilidade de retirar o produto pessoalmente na Avenida Paulista, pagamos R$50,00 e nada de frete.

Para informações sobre montagem de equipamento, veja no site Mestre Cervejeiro, no Presser e no Gräbenwasser, ótimas dicas sobre como instalar torneiras na panela, como fazer a bazooka, montagem de resfriador, etc. No site Homini Lúpulo e no Stern Bier você encontra o esquema de ligação do termostato mencionado.

Temos também uma dica. Vemos em muitos vídeos pessoas usando o resfriador e dispensando um monte de água limpa. Considerando que em um minuto uma torneira despeja de 5 a 10 litros de água, em 30 minutos o gasto pode ser de 150 a 300 litros, o que é um crime, não literal, mas moral, ambiental, etc. Se esta água for depositada em uma bombona, galões ou baldes, ela pode ser usada posteriormente para dar uma lavada no carro ou no quintal, para regar as plantas, para afogar algum vizinho chato ou para fazer um concurso de “gata molhada” no seu bairro.

Esperamos que o post seja útil e adicionaremos mais informações com o tempo.

Bruno Bontempo

17 de abr. de 2012

CERVEJA ARTESANAL: UMA QUESTÃO TERMINOLÓGICA

Desde que comecei a estudar a produção de cerveja artesanal, me peguei confuso com os termos "cerveja artesanal" e "cerveja caseira", afinal, a cerveja caseira não é artesanal? Até mesmo, mais artesanal do que a cerveja da microcervejaria?

Pois bem, os termos se misturaram na minha cabeça. Fui lendo mais, frequentando blogs, vendo vídeos e percebi que, de fato, os dois termos não possuem uma grande diferenciação, resume-se a: Cerveja artesanal é a comercializada legalmente e cerveja caseira é feita sem propósitos comerciais.

A definição do verbete Artesanato, na maioria dos dicionários recentes brasileiros é bem limitada, restringe-se a defini-lo como a produção do artesão, que por sua vez é definido também de maneira simplória, sempre limitado à produção manual ou produção popular de objetos e coisas. Mas se recorrermos à história veremos que o conceito é mais amplo.

O conceito de artesanato, logo, também o de arte, é fruto da filosofia Humanista do Renascimento. Antes, existiam as artes liberais (retórica, gramática, aritmética, geometria, etc.) e as artes mecânicas (arquitetura, agricultura, medicina), sendo que, bem genericamente, as primeiras eram necessárias para o engrandecimento do homem, realizadas através do raciocínio, já as outras não eram pensadas, mas sim, feitas para fins utilitários. É neste interim que se enquadrava (para os Humanistas) a produção artesanal durante a Idade Média, era considerada uma produção mecânica e utilitária, que não pensava, não transformava ou elevava o homem. Mesmo as imagens sacras, que na teologia medieval sempre estiveram em ferrenhas discussões não eram consideradas artes liberais, mas sim uma arte mecânica destinada à instrução. A elevação do homem que a imagem religiosa propunha não era baseada em sua materialidade, era sim uma ponte ao protótipo divino. No Renascimento os artistas, então chamados de artífices, em uma atitude de negação deste passado medieval, voltaram-se para a recuperação dos padrões greco-romanos e iniciaram uma “campanha” que tentava reivindicar a emancipação das artes, tentaram provar que a pintura, a arquitetura e a escultura não eram meras artes mecânicas, que eram fruto da alma e que podiam elevar o homem. Daí a grande quantidade de tratados de arte, como o de Vitrúvio, posteriormente os de Alberti e a grande briga entre Michelangelo e da Vinci, um considerando a escultura como arte superior, e o outro reivindicando superioridade à pintura.

Neste ponto delineia-se uma divisão entre a arte e o artesanato. As belas artes que conhecemos hoje se tornaram naquele momento artes liberais e o artesanato permaneceu entre as artes mecânicas.

Hoje o artesanato não é considerado como arte por alguns, o é por outros, é feito para fins utilitários por uns, por outros é feito para fins estéticos, mas falando de cerveja, creio que se possa definir o termo “cerveja artesanal” dizendo que esta é feita através de um processo não industrial, talvez até semi-industrial, onde quem faz é atuante em todos os processos de sua feitura (ao contrário de uma linha de produção, em que cada um domina a feitura somente de uma parte do objeto/coisa), é a cerveja feita sem intenções de comercialização em massa ou sem intenções de comercialização, onde as regras mercadológicas não limitam a criação e utilização de ingredientes, processos e tempo, visando a produção de uma cerveja de qualidade, deixando de lado os padrões das cervejas industriais amplamente comercializadas. Esta produção visa o aperfeiçoamento, digamos, “gustativo” do consumidor, é uma finalidade direcionada aos sentidos (fruição), além da proposta de inserir o consumidor em uma cultura, que é a da cerveja (educação). É feita com um propósito que não se limita a alimentar ou embriagar, logo, é mais do que utilitária.

Vê-se, portanto, que o conceito básico de cerveja artesanal não se difere do conceito de cerveja caseira. E esta introdução serve de apoio a real argumentação deste texto.

No site Cronache di Birra encontrei o prolongamento de uma discussão que me parece estar exaltando os ânimos de alguns cervejeiros italianos. No artigo "La settimana si apre con un quesito su homebrewing e birra artigianale" (A semana começa com uma questão sobre homebrewing e cerveja artesanal), o autor, Andrea Turco, explana sobre outro artigo "La birra fatta in casa si può definire birra artigianale?" (A cerveja feita e casa pode ser definida como cerveja artesanal?) de Angelo Jarrett do site Berebirra.

Ambos os artigos se debruçam sobre a questão terminológica/conceitual entre “cerveja artesanal” e “cerveja caseira”.

A argumentação de Angelo Jarrett consiste em definir como elemento diferenciador entre uma e outra, o público, e identifica aí a grande cisma entre a produção de uma microcervejaria e de um cervejeiro caseiro, visto que, se para um cervejeiro caseiro a opinião de outras pessoas pode contar pouco, para um cerveja artesanal com fins comerciais a opinião do público conta muito, e compara citando um caso hipotético, em que, se um cervejeiro caseiro e uma cervejaria artesanal se propõem ambos a criar uma cerveja Stout, o cervejeiro caseiro está livre para experimentar novos processos e diferentes ingredientes, sendo que, se o resultado não é bom, ele pode abrir mão da produção, ou consumi-la sem ter de se justificar a ninguém. Por outro lado, a microcervejaria tem muitos aspectos a considerar, como a aceitação pelos consumidores, custo de materiais, concorrentes etc., o que limitaria as opções, visto que os prejuízos para um produto que deu errado em grande escala é muito maior.

Andrea Turco prolonga o assunto, porém não pretende investigar o processo produtivo, a utilização de ingredientes melhores ou piores ou a influência do público nas decisões de uma microcervejaria, pretende sim, investigar a “filosofia” base que caracteriza a cerveja artesanal, e considera que esta “filosofia” tenha como princípio o afastamento da lógica de mercado, favorecendo a qualidade, o que acaba chegando no mesmo ponto que chega Angelo Jarrett. Ou seja, a produção comercial só tende a diminuir a qualidade da cerveja em virtude da adaptação das microcervejarias à logica de mercado e à ampla concorrência, enquanto os cervejeiros caseiros mantêm sua produção por paixão, ou seja, é nos cervejeiros caseiros que se encontra a verdadeira “filosofia” da cerveja artesanal.

Somente o fato de que esta discussão exista na Itália, nos demonstra que a situação do movimento homebrew lá pode estar se tornando complicada, e nos antecipa problemas que podem surgir aqui. Temos hoje no Brasil um movimento que tomou força recentemente, e creio que a discussão italiana nos aponta que deve haver hoje uma reflexão a respeito do futuro do movimento homebrew no Brasil. Um dado que Andrea Turco cita é que existem mais de 400 microcervejarias na Itália, e se não todas, a maioria começou anos atrás com cervejeiros caseiros. Tendo em mente a população e o tamanho da Itália podemos supor que isso necessariamente gera um clima de concorrência e estabelece, até certo ponto, uma lógica de mercado entre os microcervejeiros.


Temos aqui no Brasil um certo problema com as lojas de insumos e equipamentos, antes eram pouquíssimas, hoje surgem sempre mais. Se antes havia monopólio (e me parece que ainda há), este pode ser substituído pela concorrência, e não é possível saber o que é pior, principalmente se esta “filosofia”, dita por Andrea Turco, mas que procurei definir mais amplamente acima, forem suplantadas pela lógica de mercado.

Mesmo tendo pouquíssimo tempo de estudo e basicamente nenhuma convivência nos círculos cervejeiros, percebo pelos blogs que o princípio da cerveja artesanal existe no Brasil a ponto de não ser necessária a diferenciação entre cerveja caseira e cerveja artesanal, eu diria que cerveja artesanal é a feita em casa e também a comercializada pelas microcervejarias. Talvez a diferença seja somente terminológica, entre cerveja artesanal caseira e cerveja artesanal comercial, mas sem o peso conceitual da diferenciação que vemos na Itália. Mesmo que eu não tenha participado de eventos, os relatos que fotografias que vejo demonstram que a paixão dos cervejeiros artesanais brasileiros não está nem longe de ser suplantada pela lógica de mercado, e é melhor que nunca seja.


Bruno Bontempo
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Gostaria de deixar claro que trata-se de um texto ensaístico, com muitas deduções e que levanta mais dúvidas do que afirma algo. Muitos argumentos são tratados de maneira superficial, espero que entendam.

12 de abr. de 2012

APRESENTAÇÃO GYPSYbreja

Salve galera. Quem vos escreve é o Bruno, e gostaria de esclarecer alguns conceitos que envolvem o nome do site, assim como de nossa cerveja.

Como já foi dito na descrição de nosso perfil, eu e meus amigos cervejeiros escolhemos o termo GYPSY, vinculado ao conceito de transculturalidade, transito cultural e inserção do local no global (e vice e versa), ou seja, estamos sendo abrangentes, mas sem querer generalizar os povos ciganos. Digo povos, visto que generalizar os Romani seria como falar em "brasilidade", como se o Brasil fosse uno e cada brasileiro pudesse ser estereotipo do Brasil (mulata, futebol e carnaval).

Logo, utilizamo-nos do termo GYPSY levando em conta a trajetória dos Romani que começaram seu êxodo por volta do século IV, saindo da Índia, e se espalharam por todo o mundo, sempre em condições adversas, mediante expulsões, criminalização e preconceito, mas que em quase dois milênios conseguiram manter suas bases tradicionais e se adaptaram às diferentes realidades que encontravam, permitindo assim a perpetuação de uma cultura de base tradicional, porém hibridizada.

Deixo claro que não somos ciganos e não estamos brincando de ser. O nome foi escolhido em atitude respeitosa, não só porque apreciamos as músicas com influências ciganas, mas pelo fato de que acreditamos nas trocas culturais e somos contra as generalizações. Entra aí o paralelo com a cerveja. 

Fala-se muito hoje em uma "escola brasileira de cerveja", para isso adota-se como parâmetro a escola belga, ou a escola alemã, tcheca ou qualquer outra, normalmente países com longa tradição na produção e consumo de cerveja, com seus estilos e tipos de cerveja bem definidos em função de fatores geográficos, climáticos, históricos, culturais e sociais da região em que foram produzidos.

Para se pensar em construir uma escola de cerveja no Brasil deve-se levar em conta a complexidade da iniciativa, o que se pretende? Passamos aqui por dificuldades, a banalização da cerveja pelas mega cervejarias, os impostos abusivos e a falta de apoio à pequena produção, tudo isso bem de acordo com a tradicional politica de empurrar com a barriga, o que causa somente comodismo. Entre os ciganos, citando Nicolas Ramanusch, em “Cultura cigana, nossa história por nós”(1) , existe irmandade, mas é no laço familiar e no grupo comunitário imediato onde se encontra apoio e o que permite a perpetuação, o que constitui também a diversidade entre os diversos grupos Romani, diversidades também em virtude de contextos culturais, históricos, sociais e geográficos. Vejo o movimento homebrew no Brasil desta forma, somos um grande grupo de cervejeiros brasileiros, carregamos a tradição da cerveja como conhecimento de base, mas é dentro de nossas cozinhas ou no chão de fábrica, com nossos amigos ou funcionários, que encontramos o apoio e a perpetuação de nossa criatividade e de onde vem a diversidade.

Esta é uma proposta e um exercício crítico/criativo a que nos propomos, junto disso, uma de nossas propostas é a confecção de pelo menos alguns dos nossos rótulos através da técnica da xilogravura.

A xilogravura é uma das mais antigas técnicas de produção/reprodução de imagens. Consiste em gravar na madeira, criando algo parecido com um carimbo, o que permite que uma imagem ou texto seja reproduzido em maiores quantidades e devido ao suporte material (papel) ser mais acessível, permitiu também maior circulação destas imagens. Conceitualmente, a técnica e sua história se aliam ao nosso objetivo: o da transculturalidade e trocas culturais.

Foi através da xilogravura e também da gravura em cobre que o ocidente (leia-se Europa), difundiu seus cânones artísticos no período das colonizações e posteriormente. Estamos acostumados a ouvir sobre o barroco brasileiro e sobre o papel dos jesuítas na disseminação da cultura europeia, mas pouco ouvimos falar sore o papel da gravura nas trocas culturais. Cito como exemplo, três pinturas do pintor Manuel da Costa Ataíde, famoso colaborador de Aleijadinho, realizadas na na capela mor da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, MG, citadas por  Hana Levy no texto “Modelos europeus na pintura colonial”(2) .

1 – O sacrifício de Isaac;
2 – A morte de Abraão.

Todas seguidas de suas referências, gravuras de Demarne realizadas em metal, constantes em uma edição ilustrada da Bíblia(3).


Manuel da Costa Ataíde – O sacrifício de Isaac

Demarne – O sacrifício de Isaac

Manuel da Costa Ataíde –  A morte de Abraão

Demarne –  A morte de Abraão

De acordo como argumento de Hanna Levy, Ataíde utilizou-se das referências com cuidado, aproveitando apenas os elementos mais adequados, sendo composição dos grupos principais, iluminação e indumentária, mas rejeitando alguns elementos, como as paisagens e arquiteturas ou personagens secundários, verifica-se uma simplificação que não decorre de qualquer tipo de inépcia do artista, visto que as obras de Ataíde são composições artisticamente completas, decorre sim de uma adaptação particular, baseada no contexto brasileiro da época e às necessidades estéticas do período.

Muito poderia se falar a respeito, a autora segue sua argumentação, mas para nossos fins, os exemplos citados funcionam para exemplificar a importância histórica da gravura como disseminador/contaminadora. Sempre se enfatizou a visão eurocêntrica do mundo, em que o centro influência a periferia, mas o que vemos hoje é a consciência de que as minorias também influenciam, em um processo complexo de misturas e trocas em todos os sentidos, como vemos acima, existe adaptação, tradução, releitura e hibridização, gerando o particular.

É este o clima de troca que vem caracterizando o movimento homebrew no mundo todo, um clima onde se promove a troca do conhecimento tradicional e se compartilha as diferenças e particularidades, criando um complexo sistema simbólico que só tem a crescer.

A abordagem é superficial, mesmo porque ninguém pretende ler teses em um blog, pretendo ir aos poucos aprofundando os assuntos, entrando com mais acurácia em diversos pontos que foram somente pincelados até agora. Certamente teremos a contribuição do Hugo e do Fernando - vulgo Vegeta – cada qual em seu nicho mais direcionado de conhecimento e de minha namorada Juli Ribeiro, que é gravadora e nos dará acessoria na criação e confecção dos rótulos.

Bem vindos ao blog.

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(1) RAMANUSC, Nicolas. “Cultura cigana, nossa cultura por nós”. Gentilmente cedido pelo autor, solicitado no site da Embaixada Cigana no Brasil Pharalipen Romani. http://embaixadacigana.com.br/index.htm

(2) LEVY, Hanna. “Pintura e escultura I. Textos escolhidos da Revista do IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN. 1978.

(3) Para mais informações sobre a edição ilustrada da Bíblia, ver LEVY, Hanna. “Pintura e escultura I. Textos escolhidos da Revista do IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN. 1978. P. 100.