UMA CERVEJA "IMPRESSIONANTE"
Olá
galera que frequenta o blog (são tão poucos que talvez eu deva citar os nomes).
Venho
depois de muito tempo para falar sobre nossa Menarca, a primeira cerveja que
fizemos, mas antes justifico a ausência aqui no blog.
Como
sabem, somos todos assalariados e universitários. Estudamos, o Fernando e o
Hugo na UFABC e eu na UNIFESP, e como pode ser visto nos pouquíssimos e
parciais comentários na mídia, ficamos muito tempo em greve. Então vocês dizem:
'Mas se ficaram parados, deviam ter mais tempo’. Está aí o problema, a interrupção
das aulas não nos isenta de estudar, e sem a rotina e orientação das aulas, as
coisas ficam confusas, perde-se a ginga e bate o desespero. Junta-se a isso a
triste labuta diária, a frustração (no meu caso) de ver a greve ser levada por
um movimento estudantil irresponsável e
a ansiedade por retomar projetos acadêmicos importantes, o que temos é falta de
tempo.
Parando
com a choradeira, vamos falar sobre a Menarca. Nossa primeira cerveja, uma Red
Ale, chamada por nós de Blood Ale, feita com extrato de malte.
Não
sou apto à uma analise sensorial, mas vou tentar.
COR:
Deveria ser uma cerveja vermelha, ou pelo menos avermelhada, o que não ocorreu.
Tivemos uma cerveja pouco turva e amarela escura.
ESPUMA:
Que espuma? Após 10 dias na garrafa, o que conseguimos foi no máximo um dedinho
de espuma bem branca na superfície, que desvanecia rapidamente.
ODOR:
Cheiro fortíssimo de mel e fermento, particularmente, fumante que sou, só
distingui estes dois odores misturados. As primeiras foram abertas após 10 dias
na garrafa, a última foi aberta após mais de 60 dias na garrafa, demonstrando
grande melhora no cheiro, porém, predominava o mel e o fermento.
SABOR:
O sabor não era de todo mal, mas havia um amargor que permanecia no fundo da
língua e não era bom e um sabor muito ácido que realmente incomodava na
garganta, ainda pela falta de gás, era meio medonha. A última aberta estava bem
melhor, mas continuava ruim.
No
total, era bem ruim, mas relativizando as circunstancias, foi uma boa
experiência. Nunca mais faremos cerveja com extrato, prestaremos muito mais
atenção na medição dos ingredientes, visto que provavelmente colocamos muita
água após a fervura e pouco açúcar para o priming. Já estamos planejando nossa
próxima cerveja, agora all grain, inclusive, aceitamos receitas de uma IPA boa
para iniciantes.
Mudando
um pouco de assunto, creio que todos estejam sabendo, está em cartaz a
exposição “Impressionistas:
Paris e a Modernidade”. É de ‘impressionar’ o súbito interesse de TODAS AS
PESSOAS de São Paulo em ver esta exposição. Afinal, vamos falar a verdade, o
que é o impressionismo? Não vou dar piteco na fruição das pessoas, ouvi muitos
comentários belíssimos de senhoras extasiadas, dizendo que dava até vontade de
subir pelas escadas do “Sacré-Coeur
em Construção”, tela de Rusiñol. Uma senhorinha ligeiramente gorda, que
duvido muito conseguiria subir sem umas três pausas para respirar ou sem chamar
o SAMU! O que quero falar é de alguns conceitos errôneos que se perpetuam a
respeito do impressionismo, como, por exemplo, dizer que é somente de longe que
se tem a “impressão” de uma “pintura de verdade” ou que faziam aquelas pinturas
para impressionar. O mérito maior do impressionismo está vinculado ao contexto
social em que ele surge, momento em que os artistas renegam a academia, saem de
dentro das salas de aula e vão pintar a “plein
air”, ou seja, ao ar livre. Alí, faz-se necessária uma pintura rápida, para
que se possa captar determinado momento antes da luz se modificar, percebe-se
que o negro, muito utilizado antes, raramente existe na natureza, por isso
paisagens urbanas ou campestres muito claras, não existem linhas e a
determinação das formas é feita pela própria cor. Junta-se a isso o surgimento
da fotografia, influenciando novos enquadramentos e pontos de vista que não
existiam anteriormente, mas o principal (claro que vinculado às inovações
estéticas ditas acima), é que os impressionistas são os primeiros a retratar a
vida moderna. A cidade e seus ocupantes, a solidão no meio da multidão, as inovações
tecnológicas e a moda na França da revolução industrial, as alterações sociais
pelas quais está passando a Cidade Luz num momento em que está aparecendo o capitalismo
e é a burguesia reivindica papel central na sociedade.
Não
se deve deixar enganar, a exposição não comporta somente os típicos
impressionistas, na verdade a linha condutora da exposição é seu subtítulo “Paris e a modernidade”, visto que temos
lá artistas como Manet (não confunda com Monet), que teve profundas influência
da pintura espanhola, Cezanne e suas formas geometrizadas que deram impulso ao
cubismo, van Gogh, que se filia inicialmente aos artistas impressionistas, mas
se afasta posteriormente, vindo a influenciar o expressionismo, e Gauguin que
vai embora da França e refugia-se no Haiti, influenciando o que se chamou, a
princípio, pejorativamente, de Fauvismo (fauve = fera). Portanto, o que se vê
lá, além do impressionismo “convencional”, é a formação do olhar moderno, a
formação da sociedade moderna.
Falei
tudo isso por um último motivo. Na terra do vinho e do Champagne, num momento
em que se constrói a vida e o olhar moderno, vemos a tímida presença da cerveja
na tela “A garçonete com cervejas” de Édouard Manet, de 1879. Pintor dito "o primeiro dos modernos".
A exposição vai até 07
de outubro, mesmo com a fila, vale a pena ver. Sugiro que antes, leiam um pouco
a respeito do impressionismo, Charles Baudelaire é referência primária no
assunto. Para quem não puder ir, fica a dica deste BLOG, onde se pode ver grande parte das telas da exposição.
Bruno Bontempo