O PERIGO DA NECESSÁRIA "TRADIÇÃO".
Tradição e cerveja são coisas inseparáveis, afinal, o que concede estatuto e validade à bebida é necessariamente sua tradição. Longas cronologias são divulgadas em diversos sites e em pesquisas acadêmicas a respeito do precioso líquido, remontando o início desta tradição aos Sumérios, + - 6000 a.C., mas é na Alemanha que vemos surgir a cerveja tal qual conhecemos hoje.
A partir daí, identificamos a escola alemã, encontramos a tradição da escola belga, reconhecemos tradição à pilsner tcheca, às ales inglesas e mais recentemente, a cerveja americana vem recebendo a atribuição de escola.
Toda esta história da um gosto especial a cada cerveja, afinal, ao menos eu acredito, a tradição agrega valor conceitual à cerveja e muitas vezes, sinto como se estivesse dando um gole em séculos de história.
Mas a tradição, pelo menos o apego exagerado a ela, pode não ser o único, ou o melhor caminho a se tomar. Como estudante de História da Arte, vejo diversos exemplos, em que a tradição desemboca em puro conservadorismo, o que caba engessando as coisas. É claro que ela deve ser estudada, pois é a pedra fundamental de um grande "desenvolvimento", seria absolutamente impossível entender a Arte Medieval, o Renascimento e posteriormente o Romantismo se não tivermos uma boa base no bendito Platão, mas pensar o Barroco ou mesmo a Arte Contemporânea nos mesmos termos seria complicadíssimo.
Baco. Óleo sobre tela, 1593-1594 Galleria degli Uffizi, Firenze |
Alguns argumentos já surgiram, um deles, o do diretor dos Musei Vaticani, Antonio Paolucci, dizendo que trata-se de 'otimismo induzido', visto que as obras que agora são atribuídas ao mestre já foram vistas diversas vezes por muitos especialistas em Caravaggio, e nenhum deles ousou dar àquelas imagens uma paternidade diferente daquela que a tradição atribuía e a história colecionística parecia justificar.
O que pensar de tudo isso? É claro que não se pode simplesmente confiar que as atribuições sejam acertadas, muitos erros ocorreram em muitos momentos anteriormente e estes estudos serão submetidos à comunidade acadêmica mundial (alias, o e-book já está a venda), mas também não se pode desqualificar simplesmente porque aquilo muda um sistema, ou uma tradição bem estabelecida.
Devemos ter em mente que a tradição é uma construção que deu certo, mas que está sempre em cheque.
Bruno Bontempo
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Adendo inútil.
Os Músicos. 1595 - 1596 Metropolitan Museum of Art, New York |
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