29 de set. de 2012


UMA CERVEJA "IMPRESSIONANTE"

Olá galera que frequenta o blog (são tão poucos que talvez eu deva citar os nomes).

Venho depois de muito tempo para falar sobre nossa Menarca, a primeira cerveja que fizemos, mas antes justifico a ausência aqui no blog.

Como sabem, somos todos assalariados e universitários. Estudamos, o Fernando e o Hugo na UFABC e eu na UNIFESP, e como pode ser visto nos pouquíssimos e parciais comentários na mídia, ficamos muito tempo em greve. Então vocês dizem: 'Mas se ficaram parados, deviam ter mais tempo’. Está aí o problema, a interrupção das aulas não nos isenta de estudar, e sem a rotina e orientação das aulas, as coisas ficam confusas, perde-se a ginga e bate o desespero. Junta-se a isso a triste labuta diária, a frustração (no meu caso) de ver a greve ser levada por um movimento estudantil irresponsável  e a ansiedade por retomar projetos acadêmicos importantes, o que temos é falta de tempo.

Parando com a choradeira, vamos falar sobre a Menarca. Nossa primeira cerveja, uma Red Ale, chamada por nós de Blood Ale, feita com extrato de malte.

Não sou apto à uma analise sensorial, mas vou tentar.

COR: Deveria ser uma cerveja vermelha, ou pelo menos avermelhada, o que não ocorreu. Tivemos uma cerveja pouco turva e amarela escura.
ESPUMA: Que espuma? Após 10 dias na garrafa, o que conseguimos foi no máximo um dedinho de espuma bem branca na superfície, que desvanecia rapidamente.
ODOR: Cheiro fortíssimo de mel e fermento, particularmente, fumante que sou, só distingui estes dois odores misturados. As primeiras foram abertas após 10 dias na garrafa, a última foi aberta após mais de 60 dias na garrafa, demonstrando grande melhora no cheiro, porém, predominava o mel e o fermento.
SABOR: O sabor não era de todo mal, mas havia um amargor que permanecia no fundo da língua e não era bom e um sabor muito ácido que realmente incomodava na garganta, ainda pela falta de gás, era meio medonha. A última aberta estava bem melhor, mas continuava ruim.

No total, era bem ruim, mas relativizando as circunstancias, foi uma boa experiência. Nunca mais faremos cerveja com extrato, prestaremos muito mais atenção na medição dos ingredientes, visto que provavelmente colocamos muita água após a fervura e pouco açúcar para o priming. Já estamos planejando nossa próxima cerveja, agora all grain, inclusive, aceitamos receitas de uma IPA boa para iniciantes.

Mudando um pouco de assunto, creio que todos estejam sabendo, está em cartaz a exposição “Impressionistas: Paris e a Modernidade”. É de ‘impressionar’ o súbito interesse de TODAS AS PESSOAS de São Paulo em ver esta exposição. Afinal, vamos falar a verdade, o que é o impressionismo? Não vou dar piteco na fruição das pessoas, ouvi muitos comentários belíssimos de senhoras extasiadas, dizendo que dava até vontade de subir pelas escadas do “Sacré-Coeur em Construção”, tela de Rusiñol. Uma senhorinha ligeiramente gorda, que duvido muito conseguiria subir sem umas três pausas para respirar ou sem chamar o SAMU! O que quero falar é de alguns conceitos errôneos que se perpetuam a respeito do impressionismo, como, por exemplo, dizer que é somente de longe que se tem a “impressão” de uma “pintura de verdade” ou que faziam aquelas pinturas para impressionar. O mérito maior do impressionismo está vinculado ao contexto social em que ele surge, momento em que os artistas renegam a academia, saem de dentro das salas de aula e vão pintar a “plein air”, ou seja, ao ar livre. Alí, faz-se necessária uma pintura rápida, para que se possa captar determinado momento antes da luz se modificar, percebe-se que o negro, muito utilizado antes, raramente existe na natureza, por isso paisagens urbanas ou campestres muito claras, não existem linhas e a determinação das formas é feita pela própria cor. Junta-se a isso o surgimento da fotografia, influenciando novos enquadramentos e pontos de vista que não existiam anteriormente, mas o principal (claro que vinculado às inovações estéticas ditas acima), é que os impressionistas são os primeiros a retratar a vida moderna. A cidade e seus ocupantes, a solidão no meio da multidão, as inovações tecnológicas e a moda na França da revolução industrial, as alterações sociais pelas quais está passando a Cidade Luz num momento em que está aparecendo o capitalismo e é a burguesia reivindica papel central na sociedade.

Não se deve deixar enganar, a exposição não comporta somente os típicos impressionistas, na verdade a linha condutora da exposição é seu subtítulo “Paris e a modernidade”, visto que temos lá artistas como Manet (não confunda com Monet), que teve profundas influência da pintura espanhola, Cezanne e suas formas geometrizadas que deram impulso ao cubismo, van Gogh, que se filia inicialmente aos artistas impressionistas, mas se afasta posteriormente, vindo a influenciar o expressionismo, e Gauguin que vai embora da França e refugia-se no Haiti, influenciando o que se chamou, a princípio, pejorativamente, de Fauvismo (fauve = fera). Portanto, o que se vê lá, além do impressionismo “convencional”, é a formação do olhar moderno, a formação da sociedade moderna.

Falei tudo isso por um último motivo. Na terra do vinho e do Champagne, num momento em que se constrói a vida e o olhar moderno, vemos a tímida presença da cerveja na tela “A garçonete com cervejas” de Édouard Manet, de 1879. Pintor dito "o primeiro dos modernos".


A exposição vai até 07 de outubro, mesmo com a fila, vale a pena ver. Sugiro que antes, leiam um pouco a respeito do impressionismo, Charles Baudelaire é referência primária no assunto. Para quem não puder ir, fica a dica deste BLOG, onde se pode ver grande parte das telas da exposição.

Bruno Bontempo

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